Destroços
O silêncio ensurdecedor do quarto completamente bagunçado
ainda me causa calafrios. Meu coração dói, meu corpo todo treme enquanto me
recordo da noite anterior.
Embora eu tenha tentado esquecer, cada imagem está
completamente nítida em minha mente. Enxergo tudo com tamanha limpidez ao ponto
de idealizar o ocorrido como se ainda estivesse acontecendo nesse exato
momento, os fantasmas aparecem para me assombrar novamente com todos os
sentimentos ruins que senti invadirem cada partícula do meu ser.
Olho para o chão e vejo todos os vidros estraçalhados, o
barulho dos mesmos chocando contra o piso ainda ressoam pelos meus ouvidos; os
livros da estante sendo arremessados na parede um a um enquanto você gritava
enlouquecidamente.
Não consegui mover um músculo sequer, as lágrimas molhavam
minha camiseta enquanto todos os meus móveis eram virados de cabeça para baixo.
A fúria que seus olhos amendoados transmitiam e a forma como seu rosto se
contorcia de nervoso faziam o meu coração se encher de medo, sabia que naquele
instante cada simples movimento que você fizesse ficaria guardado na minha
memória para sempre.
Até que você parou de
destruir tudo, examinou todo o estrago que havia feito e colocou as mãos sobre
o rosto se dando conta do quão transtornado você ficava após algumas doses de
bebida. Virou-se e me olhou sentada em um canto, encarou-me pelos segundos mais
longos da minha vida, pude perceber que conseguia enxergar o medo que saia do
meu coração e invadia minha alma.
Agachou-se e me fitou
com os olhos vermelhos repletos de dor, as lágrimas escorriam sobre seu rosto e
mesmo sem dizer uma única palavra eu tive a plena certeza que estava pedindo
perdão. Colou a testa na minha e pude sentir o seu hálito de uísque forte o
suficiente para me causar náuseas, mas não me afastei nem um centímetro, pois
sabia que aquele momento seria o último que partilharíamos juntos. Mesmo o pavor
que irradiava pelo meu corpo ao senti-lo perto de mim, toquei seu rosto e
observei cada detalhe.
Seus olhos amendoados não eram mais os mesmos pelos quais me
apaixonei, seu toque não era mais sutil e seus lábios não me atraiam mais. Seu
grande trauma agora seria o meu também, você se acovardou de tal forma que
acabou vivenciando-o e perdendo todo o resquício de amor que ainda havia em sua
vida.
Levantou-se e caminhou em passos lentos até a porta,
fechando-a ao sair sem ao menos olhar para trás. O som dos seus sapatos
chocando contra o assoalho foi ainda pior do que tudo sendo estilhaçado por
todo lado.
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