Azuis

Aquele par de olhos azuis me encaravam como se eu fosse algo totalmente raro. Me sentia desconfortável com tal olhar pousado sobre mim, então apressei-me pegando alguns livros e saindo da biblioteca.

No dia seguinte os mesmos olhos azuis me observavam, atentos a cada movimento meu. Uma semana se passou, eu sentada em um canto lendo romance e ele no outro lendo poesia. Até que me aproximei e perguntei-lhe se havia algum problema e ele ficou quieto, apenas me encarando. Observei seus cabelos negros desgrenhados caindo sobre a testa, sua boca carnuda perfeitamente desenhada em um tom rosado, suas bochechas ficando coradas quanto mais eu o admirava e o cenho franzindo em traços que faziam seu rosto parecer ainda mais belo.

Não consegui parar de observá-lo desde então. Um ano depois e seus fios negros, ainda maiores do que quando o conheci, caiam sobre o travesseiro branco. Sua boca pálida e seca, olhos fechados, mãos cruzadas sobre o abdômen. Seu peitoral estava à mostra enquanto o lençol branco cobria o restante do corpo. Repousei minha cabeça sobre seu peito e lágrimas quentes saiam de meus olhos, somente o bip das máquinas tomava conta do quarto vazio. Ele estava fraco e eu também. Ele poderia ir embora a qualquer momento e consequentemente eu também iria. Deixá-lo partir seria como me entregar à escuridão. Era evidente que ele trazia luz para cada pequena parte de mim.

Prometi a mim mesma que lutaria até o fim para que eu pudesse o ter de volta. Prometi também que nunca deixaria que as esperanças morressem, porque eu não viveria sem ele. Mas ele se foi e levou consigo o último fragmento de vida que ainda existia dentro de mim.

Part. Paola Oliveira