Cry

Já se passava da meia noite quando a chuva começou a cair serenamente, mas foi aumentando conforme as batidas na porta ficavam mais fortes. Aproximei-me da janela da sala e consegui avistá-la parada na porta, mas ela não me via em meio ao negrume. Seus cabelos estavam desgrenhados e molhados, o vestido rodado dançava junto à ventania. Pude imaginar nitidamente seus lábios carnudos tremendo conforme a dor transbordava de seus olhos cor de mel.
Ela batia incessantemente, com todas as forças que ainda lhe restava; implorava por perdão.
Quanto mais sua voz ficava embargada, mais as trovoadas iluminavam o céu totalmente escuro.
Observei as gotas de chuva que desciam pela janela, vi o meu reflexo na mesma e percebi que lágrimas escorriam pelo meu rosto. A angústia empalidecendo-me pouco a pouco.
As batidas na porta, as trovoadas e os gritos faziam com que meu coração se apertasse ainda mais dentro do peito.
Tudo silenciou-se repentinamente. Assim que caminhei até a porta ouvi o zunido do vento passando pela fresta da janela e juntamente com ele ouvi um breve sussurro declarando pela última vez o seu eterno amor por mim.
Senti meu coração desacelerar e estraçalhar em milhões de pedaços. O som dos sapatos de salto foram diminuindo conforme ela se distanciava, deixando-me em meio a desordem e escuridão sem fim.

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